Neste Blogger, pretendo dar a conhecer alguns aspectos do folclore de Baixo-Minho centrando-me no concelho de Vila Verde-Braga. Fundamentando-me na revista comemorativa dos 25 anos do Grupo Folclórico de Vila Verde, onde estão os texto que aqui vou apresentar.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Costumes Ligados ao Linho

   A cultura do linho foi uma indústria caseira que esteve sempre ligada à gente portuguesa. Todas as famílias possuíam bragais que acumulavam há gerações nas suas arcas tradicionais caseiras. alguns costumes estiveram ligados à cultura do linho, que pela sua graça, vamos referir. Um deles era o "Talhar das camisas" e  o outro a oferta da camisa de linho. O talhar da camisa consistia no seguinte: após a arrancada do linho geralmente feita pelos meses de Junho e Julho, e que era um trabalho feito com muito entusiasmo e alegria, um par de jovens abraçava-se e rolava por cima do linho que se encontrava estendido no campo em molhadas. O outro, consistia, em a noiva em troca do ramo de casamento oferecido pelo noivo, dar uma camisa se linho, ordinariamente tecida por ela própria com lavores bordados por sua mão. As que não sabiam bordar encomendavam então este serviço a alguma das suas amigas ou costureiras de nome, por vezes, com mágoa, por não poderem tecer com a própria mão este linho que foi talvez, numa das noites ou na espadelada nas eiras, o principio do seu romance amoroso: 

Talvez um dia este linho
Tecido no teu tear
Seja camisa de noivo
Com que hajas de me dotar.

   O linho esteve também ligado ao religioso e ao cancioneiro Minhoto. Todas as roupas brancas do altar  e da igreja eram obrigatoriamente de tecido linho. Havia romarias onde era costume levar o linho em estrigas. De referir, que a romaria de Santa Marta das Cortiças, em Braga, era uma das mais importantes. Vendia-se a leilão a enorme quantidade de linho que a santa recebia de esmolas e promessas.
   O cancioneiro minhoto tem muitas quadras referentes ao linho. Entre elas, salientamos aqui algumas, que se cantavam nas compridas noites de Inverno, junto à lareira, quando de fiava, ou nas espadeladas ou ao matraquear dos teares como que animar ou suavizar o próprio trabalho.

Nossa Senhora tem linho
Quem tem linho tem linhaça
Os anjos do céu me levem
Na sua divina graça.

Este linho é mourisco
A fita dele namora,
Quem aqui não tem amores 
Tire o chapéu vá-se embora.

Meninas da outra banda
Já não sabem fiar linho
Andam de caixa em caixa
A ver se a malga tem vinho.

Casai-me, meu pai, casai-me
Que eu já sei fiar na roca:
Cada dia fio um fio
Cada ano uma maçoroca.

Minha roquinha de cana
Tinha Linho assedado
Para fazer umas calças
Ao meu amor que é soldado.

Quem me dera ser o linho 
Que vós na roca fiais, 
Quem me dera tantos beijos
Como vós no linho dais.



   Também ligado à cultura do linho o nosso povo conta algumas adivinhas as quais procuramos referir algumas:

1. Semeei cavaquinhas, nasceram-me bengalinhas, nas pontas das bengalinhas tornaram a nascer cavaquinhas. 

2. Brinco, brinco, brinco, brinco, brinco tanto que me aborrece, quanto mais eu brinco brinco, mais a barriga me cresce.

3. No mato nasce, no mato se cria, e vem para casa dar ais de alegria. 

   Solução de adivinhas: 1. O linho; 2. O fuso; 3. A dobadoira. 




Considerações finais:
   
   A produção do linho, já de si pequena, foi praticamente aniquilada com a concorrência dos panos de algodão, cuja produção, entretanto se mecanizou.
   Uma das razões desta decadência da indústria tradicional do linho, tem a ver com o facto de a fiação do linho se manter nos moldes antigos, exclusivamente como operação manual. Daí, resulta que o fio era de espessura muito desigual, e os panos com ele tecido de fraca qualidade não podendo suportar o conforto como os tecidos de algodão, cujo fabrico se baseava na fiação mecânica de tipo industrial.
   Segundo um estudo elaborado pela Direcção Regional de Entre o Douro e Minho do M.A.P., refere que já há muito tempo não existe campanha do linho em Portugal. Uma das razões apontadas é o baixíssimo preço pago ao agricultor pelo produto, o que tem vindo a desencorajar a cultura do linho. A indústria que utiliza, compra pois o linho no estrangeiro.
   O custo de produção do linho nacional é elevado; uma das razões que fazem com que seja assim é a falta de mecanização do arranque continua, em geral, a ser praticado à mão. Com efeito, a mecanização do arranque do linho necessita de dimensões úteis de terreno relativamente grandes, o que o contrário à divisão da terra em minifúndios (pequenas propriedades) como actualmente.


José Amaro M. Arantes 




  

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